O estudo do cânon constata que os livros bíblicos não foram escritos ao mesmo tempo nem no mesmo local. Cada um tem uma história, um complexo trabalho editorial, em muitos casos precedido de tradições orais de longa data.
O conteúdo que encontramos na Bíblia é amplo, pois abrange séculos. Ela expressa, por meio de textos escritos, recordações, vicissitudes do povo de Israel, pregação dos profetas, oração do povo, reflexão de sábios, palavras de Jesus, partes significativas de acontecimentos por ele protagonizados e posteriores reflexões da comunidade de fé.
Até o século XVI, a fé na “inspiração dos livros sagrados” era inquestionável: os livros da Bíblia eram considerados sagrados por serem inspirados por Deus, sem necessidade de discussão. Desse modo, a Bíblia era considerada absoluta, tanto no campo religioso quanto no civil.
Contudo, com o avanço das ciências, dos conhecimentos históricos, com a psicologia religiosa, a crítica literária, a arqueologia, a sociologia etc., tornou-se urgente repensar certas afirmações bíblicas. A questão passou a ser: como conciliar a afirmação tradicional a respeito da Bíblia como obra escrita sob inspiração divina e ao mesmo tempo aceitar as conclusões das novas ciências? A partir daí, teólogos passaram a aprofundar os estudos da natureza do carisma da inspiração, sob o qual os livros bíblicos foram elaborados.
Atualmente, há entre os teólogos um consenso segundo o qual Deus não ditou os textos aos autores sagrados, como faria um chefe a sua secretária. Cada autor conserva sua identidade e características, não apenas pessoais, mas também do grupo ou comunidade de que faz parte.
Cada um dos textos bíblicos indiscutivelmente faz uma reflexão, uma interpretação humana, mas ao mesmo tempo é também inspiração do Espírito Santo de Deus; eis por que seu conteúdo é “inspirado”. A Bíblia é Palavra de Deus, porém expressa em linguagem humana.
O conceito cristão de “inspiração” concerne à Escritura no seu conjunto. No caso da Bíblia hebraica, alguns livros gozam de autoridade diferenciada, a saber: o rolo dos livros do Pentateuco (Torah) tem valor superior aos textos sapiencais, pouco utilizados nas celebrações realizadas nas sinagogas.
A sabedoria, a vivência humana e a ação do Espírito Santo atuam juntas, não apenas no passado, quando cada um dos livros foi redigido, mas continuamente, infundindo uma sabedoria inspirada, não apenas no autor de cada livro bíblico, mas também no leitor atual. É por isso que se considera a palavra da Sagrada Escritura como viva e eficaz.
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